Eu próprio
Há uns tempos os comentadores das rádios e televisões referiam-se ao novo Partido Chega como sendo qualquer coisa de gente que se juntava a dizer umas coisas, gente anti-democrática, pró-fascista, reaccionária, bolorenta e que portanto não duraria muito.
Previsões políticas não sei fazer, mas sempre me pareceram essas conversas – mais ou menos enviesadas de esquerda – como uma posição muito aligeirada de quem acha que sabe tudo e que não percebe que um tal movimento político poderia também captar, logo nas primeiras eleições onde estivesse presente, os votos dos contestatários do sistema político que tem permitido enormes corrupções do poder. Pensei que assim fosse, penso que assim é e sei de uma pessoa que votou nesse sentido: eu próprio.
Também me pareceu mal o Partido Socialista, que suporta o governo, ter acedido à imposição de um outro Partido no sentido de prejudicar a tauromaquia fazendo aprovar uma lei que não autoriza as crianças a assistir às touradas, que são e sempre foram em Portugal um espectáculo onde se vai com a família e que agora o governo pretende alterar a situação impondo que devem ser afastados das praças de toiros em dias de festejos taurinos os jovens menores de 18 anos, embora tal não constasse no seu programa eleitoral.
O Partido Socialista a troco de apoio favorável do PAN, acedeu a uma imposição animalista e sem ter em conta que há muito mais aficionados à tauromaquia do que a soma dos votantes desse Partido a que recorreu para o tal arranjo parlamentar. E na primeira oportunidade eleitoral sei que muitos aficionados assim pensaram e tenho a certeza que pelo menos um votou no candidato André Ventura, por ser exactamente ele que se insurgiu no Parlamento contra a tal lei que proíbe as crianças de verem um espectáculo tauromáquico que gostam: eu próprio.
Ontem num daqueles programas de debate de ideias transmitido à noite numa das televisões e onde se falou das ultimas eleições para a Presidência da República, um dos intervenientes – Luís Pedro Nunes – referiu-se exactamente ao efeito dessa proibição tauromáquica como catalisadora de algum eleitorado para o candidato André Ventura que somou mais de meio milhão de votos e ficou em terceiro lugar, para espanto dos comentadores que há uns anos, há uns meses, há uns dias, o consideravam sem qualquer hipótese de obter uma votação significativa, num Partido condenado a desaparecer e que apelidam de extrema-direita, portanto do seu entender fora do baralho das esquerdas que tanto admiram.
Depois de ter visto esse programa chamado de “Eixo do Mal” admito que alguns aficionados tenham concordado com a intervenção de Luís Pedro Nunes ao referir que a defesa da tauromaquia na Assembleia da República protagonizada por André Ventura lhe tenha trazido votos e que houve aficionados que votaram na sua candidatura exactamente por esse facto. Sei de um: eu próprio.
Manuel Peralta Godinho e Cunha