Admiração geral por nos cartazes estarem anunciados
Seis lindos toiros para um novo grupo de forcados
Os Amadores d’Évora nas Festas de Agosto a razão
Mestre Batista, Maldonado Cortes e Fernandes Anão
Boa entrada, praça cheia, tudo bem em tarde serena
Pegas destemidas, palmas, flores e voltas à arena
Depois à saída uns rumores e a notícia curiosa
O grupo anunciado para a praça de Vila Viçosa
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Agosto de 2022
Em Évora uma Tertúlia há muitos anos
De aficionados taurinos preocupados
Não são muitos porém bem escolhidos
E os convidados sempre bem entendidos
Toureiros, ganaderos e outros que tais
Têm feito parte nesses jantares mensais
João Patinhas foi o primeiro cuidador
Muito recordado, dos forcados um senhor
Depois a Tertúlia foi entregue a Nico Mexia
Que está e estará sem prazo na chefia
Nas finanças o Luís Santos é o que resolve
Para receber, pagar, ver as contas e envolve
O Rui Cabral que das ementas é o que sabe
Nos Loios anotar, ver o que na mesa cabe
E para quem chega há sempre uma lembrança
Um motivo taurino, singelo e de esperança
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Agosto de 2022
Sem lua, céu estrelado, desponta a madrugada
Nas ruas da pequena aldeia a luz foi apagada
Há toiros ao longe apartados para Santarém
Seis escolhidos para a Feira do ano que vem
Três negros, dois malhados e um acastanhado
Mais um toiro sobrero e tudo fica preparado
Agora ao nascer do sol o galo já cantou
Depois voltou a cantar com quase o sol a raiar
O novo maioral acordou e leva o filho com ele
Ainda menino, pequenino, mas sabedor
Que com o gado bravo é preciso cuidado
Os dois vão no cavalo dar a volta à herdade
Ver se está tudo bem neste campo orvalhado
Faz tanta falta a chuva Senhor!
Chuvisca e o campo agora quase molhado
Com brisa, algum vento, pouca esperança
Outros anos de seca são má lembrança
Anda um toiro tresmalhado p’ra lá do valado
Ao longe tocam os sinos na aldeia daquele lado
O sol desponta e tudo sereno neste momento
Renova-se a natureza num esforço de alento
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Agosto de 2022
Em Setembro vou por aí fora, à Feira da Luz
E sem demora à praça de toiros de Montemor
Porque supus e desejo olhar na arena em redor
Para ver o António Pena Monteiro o primeiro
Que muitos dizem ser o último cernelheiro…
E quero ver também com ele, como convém
Um forcado de sensação valente e determinado
Chamado Francisco Godinho rabejador afamado
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Agosto de 2022
Na pátria do toureio acavalo o suporte é sem favor
O forcado amador, pela coragem, brio e destemor
O último romântico da Festa que quer pegar apenas
E dele são sempre as grandes emoções nas arenas
É um valor nacional esquecido por uns mandantes
Que longe do povo, na honra, estão tão distantes
Porém é o forcado que deixa o povo encantado
D’outros países que mal acreditam no que viram
No regresso nem sabem descrever o que sentiram
Aos amigos tão admirados do que é um toiro bravo
Sem perceberem ou entenderem porque o forcado
Repete o cite por vezes até o toiro estar pegado
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Agosto de 2022
--Na foto uma pega de caras de Dinis Caeiro. Grupo de Forcados Amadores de Évora - 2018
Não vi “Paquiro”, o Francisco Montes, lidar com grande alma
Que ao toureio deu a “Arte de Montes” serenidade e calma
O que organizou as quadrilhas sob a sua direcção extrema
Que matava a receber como Pedro Romero na sorte suprema
Não vi Lagartijo que valorizou a estética do toureio como sonhou
Não vi Guerrita, nem Belmonte e outros que o tempo já encerrou
Não vi Joselito, o Gallito, que ao toureio deu aquele sentimento
O melhor dos melhores, colhido em Talavera em mau momento
Não vi Antonio Montes y Vico, sevilhano de Triana que recebia
Os toiros parado, aguentava temeridades que ninguém entendia
Não vi Manolete o precioso e senhor daquele toureio verdadeiro
Não vi Antonio Galán que a matar sem muleta era o primeiro
Mas vi e vejo Morante, o de la Puebla, que destes recebeu
A arte, o domínio, o aroma que do saber toureiro entendeu
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Agosto de 2022
O genuíno povo deste país e os Reis mostraram o interesse pelas touradas
Noutros tempos, com as mentalidades mais puras e menos mudadas.
Afonso o africano, assinalou o casamento de sua irmã Joana de Portugal
Com o rei de Castela e festejos taurinos em Évora e Elvas como era normal
O rei Sebastião, construiu praças de toiros, como é conhecido e vos falo
Em Évora, na Praça Grande, antes de ir guerrear, lidou toiros a cavalo
Pedro segundo, no seu casamento com Maria Sofia de Neuburgo
Houve grande boda, belos bailes, três touradas e grandes festejos.
João quinto para sua filha Maria Bárbara e como eram os seus desejos
Realizou touradas de maravilha com cavaleiros na praça da Junqueira.
Uma real senhora, a nossa rainha piedosa e bem religiosa Maria primeira
Mandou construir uma praça de toiros mas de Portugal não a derradeira
E chegou o rei mais afamado, aficionado aos toiros que deixou saudade
Miguel de um sentimento profundo, de glória fugaz da sua humanidade
Construiu no Campo de Sant’Anna bela praça de toiros e bem portuguesa
Inaugurada com praça cheia. A obra passou de ilusão a uma certeza
Carlos de Bragança na praça do Campo Pequeno um desejo profundo
E aquela praça alguma vez sonhada passou a ser a mais linda do mundo
Aqui estão as achegas da realeza à nossa tourada com tanta beleza
Reveladora de uma cultura nacional, tradicional ainda bem acesa
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Agosto de 2022
Eis aqui alguns cabos de forcados de maior evidência
De Santarém conhecido e dos que teve maior essência
Da ética do forcado amador com seriedade e valor
Ricardo Rhodes Sérgio, dos cernelheiros o primeiro.
Joaquim José Capoulas, de Montemor o timoneiro
De enormes forcados de caras e grandes cernelheiros
Com rabejadores sábios, valentes e autênticos senhores
Grande forcado amador e que o seu Grupo consolidou.
Nuno Salvação Barreto num filme a todos assombrou
Quando no Quo Vadis pegou um toiro em pontas
E o seu Grupo em França deixou as pessoas tontas
Por ser o primeiro a mostrar os forcados aos gauleses
Na pega de caras com a arte e a raça dos portugueses.
Também outro forcado de eleição um Grupo fundou
E a João Patinhas Évora deve esse feito que marcou
A Festa Brava no Alentejo e no país, onde foi superior
Na Praça México o primeiro cabo de amadores e autor
De apresentar no “paseíllo” um tal grupo de forcados
Na arena dispostos a pegar os toiros desembolados.
E António Sécio no Montijo renovou o Grupo e o posicionou
No cimo da forcadagem com brio, saber e enorme coragem
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Agosto de 2022
Carlos primeiro de Portugal e dos Reis o penúltimo
De rara sensibilidade, cavaleiro, foi grande aficionado
A saber pegar de caras, da Casa Real foi o último
Comprou uma vacada andaluza a Francisco Navarro
Nos campos do Alentejo uma ganadaria formou
Com o ferro da Casa de Bragança e divisa verde e prata
Em muitas arenas portuguesas belos toiros lidou
Assim a tauromaquia à monarquia tem que estar grata
Uma tradição centenária mantida com muito ardor
Quando o homem eleva nos toiros a sua brutal bravura
Porque houve quem a defendesse com real valor
Algo se passa num povo que se agiganta na sua estatura
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Agosto de2022
Em Setembro de cinquenta e três despediu-se o cabo
António Matias Leiteiro, dos Profissionais de Lisboa
Para o substituir foi para cara do toiro o grande forcado
João Raiva que citou com arte e graça em hora menos boa
Também Helder Antoño, forcado determinado e valente
Ao pegar o “Farrusco” de Passanha não teve aquela sorte
Neste enorme toiro, aguentou fortes derrotes e de repente
Alcochete ficou a chorar, luto e muita tristeza pela sua morte
Em Agosto de noventa e um, na arena de Angra do Heroísmo
Caiu António Gouveia Leite, valente e de grande altruísmo
Dos Amadores do Montijo, na ilha dos Açores perdeu a vida
António Santos lá muito longe, na linda praça de Albufeira
Também ficou ferido de morte com uma bandarilha traiçoeira
Cabo dos Amadores de Aveiras de Cima e a sua vida perdida
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Agosto de 2022