Toca p´rà pega
Final da lide um burburinho
Público que aplaudiu o cavaleiro
Um grupo de forcados pega sozinho
O cabo com o barrete para o primeiro
Dos seis e bravos toiros de Murteira
Sinal da cruz, em prece quase calada
Aguarda-se o momento na trincheira
Arte da pega bem demonstrada
Toca o clarim, silêncio de respeito
Cite sereno, do toureio o conceito
Parar, mostrando ao toiro a figura
Mandar, determinando a investida
Templar com o corpo em arte pura
A máxima de Belmonte resumida
Nos tempos do toureio marcados
P’lo forcado num cite bem feito
Podem ser instantes consagrados
Em momento tão curto e perfeito
Nos toiros esta arte portuguesa
D’agora e do futuro com certeza
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Janeiro de 2024
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O poema não reflete uma corrida de toiros em particular, mas sim o somatório de muitas imagens da nossa Festa que nos ficaram na memória.
Há diversas definições do toureio, porém Juan Belmonte deu-lhe o seguinte significado em três tempos: “Parar, Mandar e Templar”. Tal pode acontecer na pega de caras quando o forcado consegue marcar esses três momentos durante o cite: Quando “Pára”, marcando a figura e mostrando-se ao toiro; quando “Manda”, provocando a investida do toiro; quando “Templa”, ao recuar, trazendo o toiro para dentro do grupo. Quando isso acontece durante o cite houve, na realidade, momentos de toureio.
Quanto ao silêncio durante o cite na pega de caras, é um sinal que o público está com o forcado e o respeito que tem pela pega. O mesmo acontece em Espanha na sorte de matar, onde se suspende a música e o público se cala.
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Na fotografia: Grupo de Forcados Amadores de Alcochete.
