Matemática
Foi Nuno Salvação Barreto um dos poucos forcados amadores que viu reconhecida, ao mais alto nível, a sua vida de aficionado e taurino, tendo sido agraciado pela Câmara Municipal de Lisboa, condecorado pelo Presidente da República e recebido, do Secretário da Cultura, a Medalha de Mérito Cultural.
Estas condecorações num forcado são caso único, apesar da pega ser um ex-libris de Portugal. Na verdade, as autoridades deste país pouco interesse têm manifestado pela tauromaquia em geral e pelos forcados em particular (…)
(…) Mas efectivamente Nuno Salvação Barreto foi um caso ímpar na divulgação da pega e da corrida de toiros à portuguesa. Como forcado e como empresário (…)
(…) Como lado negativo, o fazer-se anunciar durante vários anos como cabo de um Grupo, onde já não se fardava, atrasando a passagem da chefia para esse grande forcado chamado José Luís Gomes.
A notícia de que teria pegado mais de 400 toiros não deveria ter sido divulgada como foi. Qualquer publicação taurina deveria ter cuidado na divulgação dessa notícia e tentar confirmá-la. Para ter pegado 400 toiros, seria necessário Nuno Salvação Barreto ter-se fardado em 400 corridas e ter pegado de caras em todas (…)
(…) O Grupo de Forcados Amadores de Lisboa teve a sua fundação em 1944. Nuno Salvação Barreto tentou fazer a última ou uma das últimas pegas de caras em Julho de 1964 no Campo Pequeno, na corrida onde actuou também o matador espanhol El Cordobés. De 1944 a 1964 passaram 20 anos. Para Nuno Salvação Barreto ter tido a possibilidade de pegar 400 toiros teria o seu Grupo ter actuado em 20 corridas por ano nesse período e o cabo ter pegado sempre em todas as corridas. É uma questão de matemática.
Contudo, o número de toiros que Nuno Salvação Barreto pegou de caras não é o mais importante. Efectivamente o seu nome ficará, de forma inigualável ligado ao forcado português e deverá ser sempre uma referência para todos os que pegam toiros.
Nuno Salvação Barreto, como forcado e como empresário deu à Festa, sempre, muito mais do que recebeu e a sua memória não deverá ser desvirtuada por notícias menos correctas.
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Publicado no jornal “Festa Brava” em 27 de Março de 1997
