O conteúdo deste blogue é da responsabilidade de MANUEL PERALTA GODINHO E CUNHA e pode ser reproduzido noutros sítios que não pertençam ao autor porque o importante é a divulgação da tauromaquia.
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A arte do “rejoneio”, que durante muitos anos apareceu quase que envergonhada nas praças de Espanha a que alguns puristas denominavam “el número del caballito”, teve um incremento importante nas últimas décadas e em terras espanholas quatro rejoneadores se destacaram: Moreno Pidal, Ginés Cartagena, Pablo Hermoso de Mendoza e Diego Ventura, rejoneadores que fizeram escola e deixaram raízes em muitos outros interpretes do rejoneio.
Ultimamente em Espanha há um crescente interesse pela lide dos toiros a cavalo e os nossos “marialvas” têm sentido a necessidade de se afirmarem nas praças espanholas a ponto de alguns lá confirmarem as alternativas… Facto que se inverteu, porque em anos não muito distantes o grande objectivo de um rejoneador espanhol era triunfar nas principais praças portuguesas.
Assim sendo, são os nossos marialvas a prestar vassalagem aos espanhóis e talvez tenham razão porque nos últimos tempos não se pode considerar a Monumental do Campo Pequeno como a “Catedral do Toureio a Cavalo” porque há governantes, autarcas locais e deputados da república que querem proibir as corridas de toiros em Lisboa.
Isto se, e só se, os aficionados deixarem. Eu, que sou só um simples eleitor, digo que não!
Há quem incorrectamente desvalorize a colocação do par de bandarilhas no toureio a cavalo.
A primeira regra na lide à portuguesa é que na reunião o toiro deve chegar ao cavalo ao estribo e haverá mais mérito quanto mais por diante for colocada a montada e depois rematar a sorte envolvendo o toiro com o quarteio.
É um costume de alguns cavaleiros cravarem um par de bandarilhas a duas mãos no final da lide e se tal for executado dando vantagem ao toiro, com o cite de frente e cravando à altura do estribo ou da silha será de grande valor. Se assim for, é um bonito adorno e há que dar mérito a quem o executou porque terá que ter perfeito domínio do cavalo.
Se a cravagem for a silhas passadas ou à garupa a sorte perde o mérito.
Quem se interessar pelo historial da tauromaquia portuguesa gostará de saber que foi João Branco Núncio o primeiro cavaleiro a executar em 1923 em Portugal a sorte de bandarilhar a duas mãos. Sorte que já tinha sido anteriormente divulgada no México por Ponciano Diaz, matador de toiros mas que também toureou a cavalo vestido de “charro”. Porém, consta que o primeiro rejoneador a colocar um par de bandarilhas a duas mãos terá sido o mexicano Ignacio Gadea em 1888.
Imediatamente depois de João Branco Núncio a sorte de bandarilhar a duas mãos foi também vulgarizada por Simão da Veiga Jr., António Luís Lopes e pelo amador Justino de Vilhena. Sorte ultimamente muito divulgada nas actuações de Joaquim Bastinhas e por Luís Rouxinol, sendo este, presentemente, o melhor executante.
No reinado de D. João V - de 1706 a 1750 - as minas de ouro e de pedras preciosas descobertas no Brasil permitiram a realização de grandes investimentos em Portugal, destacando-se a construção do Aqueduto das Águas Livres em Lisboa e o convento de Mafra.
Este monarca também se interessou pelo desenvolvimento cultural e fundou a Real Academia de História, o Observatório Astrológico do Colégio de Santo Antão e a Biblioteca da Universidade de Coimbra.
Também foi D. João V que mandou construir, no Palácio de Belém, o Picadeiro Real e fundou a Coudelaria de Alter.
Nesses tempos, a Europa desejava seguir a moda de França e em Portugal os cavaleiros passaram a trajar à Luís XV.
Já no reinado seguinte – de D. José, de 1750 a 1777 – destacou-se como “Estribeiro-Mor” D. Pedro de Alcântara e Meneses, 4º. marquês de Marialva, que era um dos melhores cavaleiros e que também toureava a cavalo.
Foi “Mestre de Picaria” outro notável cavaleiro desse tempo, chamado Manuel Carlos de Andrade, que escreveu um excelente tratado de equitação denominado “LUZ DA LIBERAL E NOBRE ARTE DA CAVALARIA” inspirado na arte do marquês de Marialva.
Teve tão grande impacto a fama do marquês de Marialva e o livro de Manuel Carlos de Andrade que ainda hoje perdura a designação de “à Marialva” tudo o que se refere ao método de equitação e ao traje dos cavaleiros tauromáquicos portugueses.
Arte de Montes
Na história da tauromaquia e no que se refere ao toureio a pé dois toureiros tiveram enorme influência em meados do Século XVIII: Joaquin Rodriguez “Costillares” e Pedro Romero.
Enquanto Pedro Romero, da “escola de Ronda” – neto de Francisco Romero – o seu toureio foi caracterizado pela sobriedade e seriedade, sem adornos, frio, pensado e medido, o toureio de “Costillares” da “escola de Sevilha” tem improvisação e graça e foi este o inventor do lance à verónica e da estocada “a volapie”.
Pedro Romero foi nomeado em 1830 pelo rei Fernando VII, portanto com 76 anos, director da Escola de Tauromaquia de Sevilha. Escola que teve também como mestre o matador de toiros Jerónimo José Cândido e foi frequentada por diversos alunos, no período de 1830 a 1834, sendo um deles Francisco Montes Reina “Paquiro”, um verdadeiro génio do toureio que sabia matar “recebendo” como Pedro Romero e executar o “volapié” como “Costillares”.
Foi Francisco Montes “Paquiro” que deu um conceito colectivo de lide, ao ser o primeiro a disciplinar e organizar a sua “quadrilha”, onde os picadores e bandarilheiros passaram a ter uma missão específica debaixo da direcção suprema do espada.
No jantar que se realizou na noite de 4 de Abril de 2016 na Pousada dos Loios em Évora, foi convidado de honra da Tertúlia Tauromáquica Eborense o cavaleiro ribatejano Manuel Jorge de Oliveira que recordou diversos aspectos da sua vida, de toda a influência tauromáquica que recebeu do seu Pai Joaquim Oliveira; desde as primeiras lições de equitação com o mestre José Vicente, equitador da Estação Zootécnica Nacional “Fonte Boa”; a sua primeira aparição em público – com apenas 10 anos – num espectáculo realizado pelos Bombeiros Voluntários da Azambuja; a sua prova de cavaleiro praticante na Praça de Toiros de Alcochete em 1976, depois de ter sido considerado o cavaleiro amador que mais se destacou nos anos anteriores; a sua alternativa em 1977 concedida por José João Zoio na Praça Monumental do Campo Pequeno. Depois seguiram-se actuações memoráveis em Portugal, Espanha e França, sempre alternando com os melhores cavaleiros portugueses e rejoneadores espanhóis. Sempre nas principais Praças. Sempre nos principais cartéis. Com os seus famosos cavalos pretos com ferro de Ortigão Costa, com destaque para o Bafejado, o Jaguar e o Jubileu.
Mais tarde aluno do mestre Nuno de Oliveira de 1985 a 1989, com ele a sua equitação melhorou e o conceito de não castigar “com sangue” os cavalos passou a ser um dos seus lemas.
Mas para além destas recordações que tiveram o testemunho de alguns elementos da Tertúlia, houve também troca de pontos de vista tauromáquicos, de toureio a cavalo e de toureio a pé, de grande interesse que se prolongaram durante esta agradável noite de convívio entre aficionados ao toiro e ao cavalo.
Manuel Jorge de Oliveira que se foi retirando do toureio a cavalo a partir de 1983, tendo feito a sua despedida na Praça de Toiros do Cartaxo em 2013 e passou a dedicar-se a professor de equitação na sua quinta no Cartaxo, mas também na Alemanha, França e Suécia onde desenvolve intensa actividade. Na Alemanha já foi divulgado um livro sobre a sua arte de montar a cavalo, sendo a única publicação editada naquele país sobre um cavaleiro português que se tem destacado como mestre de equitação clássica.