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Partebilhas

O conteúdo deste blogue é da responsabilidade de MANUEL PERALTA GODINHO E CUNHA e pode ser reproduzido noutros sítios que não pertençam ao autor porque o importante é a divulgação da tauromaquia.

O conteúdo deste blogue é da responsabilidade de MANUEL PERALTA GODINHO E CUNHA e pode ser reproduzido noutros sítios que não pertençam ao autor porque o importante é a divulgação da tauromaquia.

Toureiros de aroma

Juan Ortega-desplante.jpeg                                                                                                                                                           

De aroma verdadeiro, há toureiros

Alguns com aquele génio majestoso

Curro Romero e De Paula os primeiros

Movendo o capote em estilo rigoroso

Depois Curro Díaz e outras figuras

Como Juan Ortega, da mesma arte

Deixam imagens como pinturas

Nas arenas do mundo, em toda a parte                                       

Mestres no saber lancear o capote

Ficam na história para além da morte

 

Com a muleta, faenas de não esquecer

De sonho, sublimes, imponentes

Com aquele perfume de enaltecer

Aromas taurinos, apurados, diferentes

Cartazes de toiros, artistas especiais                                                 

Verdadeiros fazedores de sensações

No toureio com diferentes sinais

Do imaginário, sentimentos e emoções

Da vida, do sublime, tão perto da morte

Desses toureiros que desafiam a sorte

 

Dos lentos “naturais” e “passes de peito”

Que fazem suspender a respiração

Revelam, abrem, mostram o efeito

Deixando tal aroma na multidão

Maravilha que se passa na arena

Depois aplauso vigoroso, penetrante

Talento, arrojo e perfeição serena                                                    

De todos há um nome sonante

Morante de la Puebla e andaluz

Toureio profundo, aroma que seduz

 

Manuel Peralta Godinho e Cunha

Agosto de 2024

- - -

No toureio a pé ao uso de Espanha, há matadores que lidam qualquer toiro com valentia, intrepidez e denodo. Alguns até bandarilham.

Há, porém, alguns, num outro estilo de toureio, também arrojado, mas mais artista, que não toureiam tudo o que aparecer, mas sim o toiro que lhes permite luzimento dentro de um critério artístico a que é chamado “toureio de aroma”. Desta forma destacaram-se, entre outros, Curro Romero, Rafael de Paula, Morante de la Puebla, Curro Díaz e Juan Ortega.

 

 

Curro Romero

Curro Romero.jpg                                                                                                                                                                                                                    

Há visões que parecem ilusões

Ilusões transformadas em verdade

Certezas que germinam confusões

Momentos que passam a saudade

Num toureio de patamar superior

Que nem sempre foi entendido

E na praça público sabedor

Mais um ou outro confundido

Há no toureio de arte e aroma                                     

Talento que Romero revelou                                  

Talento que exibiu sintoma

Dum valor que bem mostrou

À aquela imperfeita maneira

De quem nunca entendia

A sensibilidade toureira    

De tanto génio a mestria

 

Manuel Peralta Godinho e Cunha

Outubro de 2022

                                                   

Cristina Sánchez

Cristina Sánchez.jpg                                                                                                                                                    

Menina e desejo impensável

Lidar a pé ser toureira notável

Das mulheres de Espanha a primeira

Realizar o sonho e ser novilheira

Depois matadora, em Madrid confirmou

Maestro Curro Vásquez apadrinhou

Antes Romero em praça francesa

A permissão de lidar com certeza

Matadora com saber e verdade

Cristina Sánchez  na realidade

Espanhola toureira mais importante

No mundo taurino nome marcante        

 

Manuel Peralta Godinho e Cunha

Outubro de 2022                                          

 

Rafael de Paula

Rafael de Paula...jpg                                                                                                                                                                                   

Toureiros como Curro Romero e José Antonio

O de La Puebla, com toureio sublime, meritório

Nem sempre são apreciados na sua arte infinita

Alguns os viram lidar, oportunidade bendita

Não servem para qualquer toiro, são especiais

Toureiros de aroma, de momentos celestiais

Em outro patamar diferente, para lá de tudo

Rafael de Paula, sabor distinto, quase absurdo

Capote deslumbrante em verónicas bordadas

Difíceis de descrever, lentas, como sonhadas

Nas músicas caladas de o silêncio escutar

Sim, silêncio solene, sublime de arrepiar

Sussurro nos movimentos celestiais

Do murmúrio aos aplausos magistrais

De tauromaquia própria, sem legenda

Penumbra de recordação, uma lenda

 

Manuel Peralta Godinho e Cunha

Outubro de 2022

Rafael de Paula.jpg

 

Sevilha – 15 de Agosto de 1973

Praça de Toiros de Sevilha.png                                                                                                                                                                 

Recordo ter visto uma vez

Em Agosto de setenta e três

Antonio Bienvenida na Maestranza

Em corrida de postín e esperança

Curro Romero no cartaz constava

De Paula também se anunciava

Bienvenida esteve bem e superior

Romero no segundo foi o autor

D’uma faena magistral de prémio

Maestro do toureio, um génio

Rafael nuns lances de retórica

Rematou com meia verónica

Deixando o público maravilhado

Pena com a espada ter falhado

Depois quando sexto lidou

Um espontâneo à arena saltou

Um só único muletazo deu

Logo a polícia o prendeu

Foi assim mais uma tarde

Com toureio de verdade

Nesta linda praça de Sevilha

Numa corrida de maravilha

 

Manuel Peralta Godinho e Cunha

Outubro de 2022

 

Há exactamente 55 anos

26.05.1967-Madrid.jpg                                                     

Madrid – 26 de Maio de 1967

Curro Romero, Paco Camino e Diedo Puerta saíram em ombros pela porta Grande de Las Ventas, no final de uma corrida histórica.

Porém, no dia anterior Curro Romero foi preso pela “Dirección General de Seguridad” por se ter recusado a matar um toiro na mesma Praça. Na realidade tinha saído um “sobrero” da ganadaria de Cortijoliva, que Curro disse que já tinha sido lidado e, com quadrilha recolheu aos burladeros antes do terceiro tércio. O Presidente da Corrida deixou passar os 15 minutos regulamentares e mandou prender o toureiro que passou a noite na encarcerado.

Libertado no dia seguinte para poder tourear, depois de pagar uma elevada multa, teve uma actuação meritória e saiu pela Porta Grande.

Curro Romero no seu melhor. Uma lenda do toureio.

Manuel Peralta Godinho e Cunha

Contrastes

Há enormes contrastes quando um matador de toiros toureia em Espanha ou em Portugal.

Aqui em Portugal o matador pode lidar toiros em público mas no final da lide não pode executar a sorte suprema, portanto não mata o toiro e se o fizer é preso e multado, como aconteceu com Manuel dos Santos em 1951.

Ali ao lado, em Espanha, o matador será preso e paga uma multa se se recusar a matar o toiro.

Assim e por absurdo, o mesmo matador será preso na Praça de Elvas se matar o toiro e também vai para a cadeia se se recusar a matar na Praça de Badajoz. A distância entre as duas cidades é muito pequena mas a regulamentação é enorme.

Vem isto a propósito de uma efeméride de 25 de Maio de 1967 na Praça de Madrid, quando Curro Romero se recusou a matar o sobrero da ganadaria de Cortijoliva por ter considerado que o toiro já teria sido toureado. Curro foi detido por ordem do Presidente da Corrida e conduzido ao posto da Dirección General de Seguridad onde passou a noite e posto em liberdade no dia seguinte para poder tourear uma corrida da ganadaria de Benítez Cubero alternando com Diego Puerta e Paco Camino.

Curro Romero foi e é um mito da tauromaquia de Sevilha, da tauromaquia de Espanha. É dele a frase “tenho o medo mais sereno do mundo”.

Todos têm medo, Curro Romero tinha também muito. Um medo que era ultrapassado pela sua arte. Uma arte de aroma, como só possível aos grandes artistas.

Enorme também nas doações. Nesse mesmo ano de 1967 toureou 33 corridas e numa delas, a de 21 de Setembro, saiu em Madrid para lidar sozinho os toiros de Urquijo e em beneficio da Luta contra o Cancro, porém alem do contratado ofereceu também a lide do sobrero, tendo lidado sete toiros nessa tarde.

Teve uma longa vida de matador e pisou as arenas consecutivamente desde 1954 a 1999 tendo estoqueado mais de 1600 toiros. Foi colhido com gravidade em Algeciras, La Línea e Zafra em 1962; em Palma de Maiorca em 1963; em Almería em 1965: em Madrid em 1968; em Málaga em 1972; em Puerto de Santa María em 1982 e em Aranjuez em 1989.

Em diversas ocasiões foi-lhe reconhecido o mérito toureiro e em Abril de 2018 Curro Romero recebeu o Prémio da Cultura da Universidade de Sevilha numa cerimónia onde estiveram o reitor da Universidade, o alcaide de Sevilha e o testemunho dos matadores: Pepe Luis Vásquez, Espartaco, Diego Urdiales, Dávila Miura, Manuel Escribano e Pedro Chicote.

Tauromaquia é cultura.

 

Curro Romero- Prémio da Cultura-Universidade Sevi

 Curro Romero - Prémio da Cultura da Universidade de Sevilha

 

Registos tauromáquicos

Romero.jpg

“El aficionado no sabe nunca si lo que recuerda corresponde a la verdad”

 Gregorio Corrochano

 

A frase lapidar do inesquecível mestre da escrita taurina, aplica-se em qualquer espectáculo, mas muito bem no tauromáquico.

Na realidade sabemos que, muitas vezes, os aficionados e os próprios ganaderos, toureiros e forcados referem-se a factos antigos nas arenas, com muita imprecisão, sendo portanto importantíssima a crónica taurina escrita que, quando séria e competente, deixa para o futuro o registo fundamental para um historial honesto do toureio.

Assim e baseado num trecho do livro “El discurso de la corrida” de François Zumbiehl, um curioso apontamento ficou arquivado sobre uma actuação de Curro Romero que passou a ser recordado como que uma lenda da Praça de Sevilha.

Nesse livro, refere o autor que o “Faraón de Camas” – na célebre corrida a favor da Cruz Vermelha Espanhola – em 19 de Maio de 1966, quando o diestro se encerrou com 6 toiros, o público presenciou um facto raro:

Curro Romero depois de lidar de capote um dos toiros, com destaque para três verónicas e meia, foi de tal maneira ovacionado que teve que dar uma volta de agradecimento antes de começar a faena de muleta. Mas o caso inédito e que deixou toda a gente louca de entusiasmo, foi quando Curro começou a dar a volta à arena e arrastando o capote, o toiro andou uns trinta metros com a cabeça baixa sobre o capote mas tranquilamente e sem investir.

Nesta corrida realizada na Real Maestranza, Curro Romero cortou 8 orelhas aos 6 toiros de D. Carlos Urquijo

Olé matador!

 

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