O conteúdo deste blogue é da responsabilidade de MANUEL PERALTA GODINHO E CUNHA e pode ser reproduzido noutros sítios que não pertençam ao autor porque o importante é a divulgação da tauromaquia.
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No toureio a pé ao uso de Espanha, há matadores que lidam qualquer toiro com valentia, intrepidez e denodo. Alguns até bandarilham.
Há, porém, alguns, num outro estilo de toureio, também arrojado, mas mais artista, que não toureiam tudo o que aparecer, mas sim o toiro que lhes permite luzimento dentro de um critério artístico a que é chamado “toureio de aroma”. Desta forma destacaram-se, entre outros, Curro Romero, Rafael de Paula, Morante de la Puebla, Curro Díaz e Juan Ortega.
Curro Romero, Paco Camino e Diedo Puerta saíram em ombros pela porta Grande de Las Ventas, no final de uma corrida histórica.
Porém, no dia anterior Curro Romero foi preso pela “Dirección General de Seguridad” por se ter recusado a matar um toiro na mesma Praça. Na realidade tinha saído um “sobrero” da ganadaria de Cortijoliva, que Curro disse que já tinha sido lidado e, com quadrilha recolheu aos burladeros antes do terceiro tércio. O Presidente da Corrida deixou passar os 15 minutos regulamentares e mandou prender o toureiro que passou a noite na encarcerado.
Libertado no dia seguinte para poder tourear, depois de pagar uma elevada multa, teve uma actuação meritória e saiu pela Porta Grande.
Há enormes contrastes quando um matador de toiros toureia em Espanha ou em Portugal.
Aqui em Portugal o matador pode lidar toiros em público mas no final da lide não pode executar a sorte suprema, portanto não mata o toiro e se o fizer é preso e multado, como aconteceu com Manuel dos Santos em 1951.
Ali ao lado, em Espanha, o matador será preso e paga uma multa se se recusar a matar o toiro.
Assim e por absurdo, o mesmo matador será preso na Praça de Elvas se matar o toiro e também vai para a cadeia se se recusar a matar na Praça de Badajoz. A distância entre as duas cidades é muito pequena mas a regulamentação é enorme.
Vem isto a propósito de uma efeméride de 25 de Maio de 1967 na Praça de Madrid, quando Curro Romero se recusou a matar o sobrero da ganadaria de Cortijoliva por ter considerado que o toiro já teria sido toureado. Curro foi detido por ordem do Presidente da Corrida e conduzido ao posto da Dirección General de Seguridad onde passou a noite e posto em liberdade no dia seguinte para poder tourear uma corrida da ganadaria de Benítez Cubero alternando com Diego Puerta e Paco Camino.
Curro Romero foi e é um mito da tauromaquia de Sevilha, da tauromaquia de Espanha. É dele a frase “tenho o medo mais sereno do mundo”.
Todos têm medo, Curro Romero tinha também muito. Um medo que era ultrapassado pela sua arte. Uma arte de aroma, como só possível aos grandes artistas.
Enorme também nas doações. Nesse mesmo ano de 1967 toureou 33 corridas e numa delas, a de 21 de Setembro, saiu em Madrid para lidar sozinho os toiros de Urquijo e em beneficio da Luta contra o Cancro, porém alem do contratado ofereceu também a lide do sobrero, tendo lidado sete toiros nessa tarde.
Teve uma longa vida de matador e pisou as arenas consecutivamente desde 1954 a 1999 tendo estoqueado mais de 1600 toiros. Foi colhido com gravidade em Algeciras, La Línea e Zafra em 1962; em Palma de Maiorca em 1963; em Almería em 1965: em Madrid em 1968; em Málaga em 1972; em Puerto de Santa María em 1982 e em Aranjuez em 1989.
Em diversas ocasiões foi-lhe reconhecido o mérito toureiro e em Abril de 2018 Curro Romero recebeu o Prémio da Cultura da Universidade de Sevilha numa cerimónia onde estiveram o reitor da Universidade, o alcaide de Sevilha e o testemunho dos matadores: Pepe Luis Vásquez, Espartaco, Diego Urdiales, Dávila Miura, Manuel Escribano e Pedro Chicote.
Tauromaquia é cultura.
Curro Romero - Prémio da Cultura da Universidade de Sevilha
“El aficionado no sabe nunca si lo que recuerda corresponde a la verdad”
Gregorio Corrochano
A frase lapidar do inesquecível mestre da escrita taurina, aplica-se em qualquer espectáculo, mas muito bem no tauromáquico.
Na realidade sabemos que, muitas vezes, os aficionados e os próprios ganaderos, toureiros e forcados referem-se a factos antigos nas arenas, com muita imprecisão, sendo portanto importantíssima a crónica taurina escrita que, quando séria e competente, deixa para o futuro o registo fundamental para um historial honesto do toureio.
Assim e baseado num trecho do livro “El discurso de la corrida” de François Zumbiehl, um curioso apontamento ficou arquivado sobre uma actuação de Curro Romero que passou a ser recordado como que uma lenda da Praça de Sevilha.
Nesse livro, refere o autor que o “Faraón de Camas” – na célebre corrida a favor da Cruz Vermelha Espanhola – em 19 de Maio de 1966, quando o diestro se encerrou com 6 toiros, o público presenciou um facto raro:
Curro Romero depois de lidar de capote um dos toiros, com destaque para três verónicas e meia, foi de tal maneira ovacionado que teve que dar uma volta de agradecimento antes de começar a faena de muleta. Mas o caso inédito e que deixou toda a gente louca de entusiasmo, foi quando Curro começou a dar a volta à arena e arrastando o capote, o toiro andou uns trinta metros com a cabeça baixa sobre o capote mas tranquilamente e sem investir.
Nesta corrida realizada na Real Maestranza, Curro Romero cortou 8 orelhas aos 6 toiros de D. Carlos Urquijo