O conteúdo deste blogue é da responsabilidade de MANUEL PERALTA GODINHO E CUNHA e pode ser reproduzido noutros sítios que não pertençam ao autor porque o importante é a divulgação da tauromaquia.
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Foi Nuno Salvação Barreto um dos poucos forcados amadores que viu reconhecida, ao mais alto nível, a sua vida de aficionado e taurino, tendo sido agraciado pela Câmara Municipal de Lisboa, condecorado pelo Presidente da República e recebido, do Secretário da Cultura, a Medalha de Mérito Cultural.
Estas condecorações num forcado são caso único, apesar da pega ser um ex-libris de Portugal. Na verdade, as autoridades deste país pouco interesse têm manifestado pela tauromaquia em geral e pelos forcados em particular (…)
(…) Mas efectivamente Nuno Salvação Barreto foi um caso ímpar na divulgação da pega e da corrida de toiros à portuguesa. Como forcado e como empresário (…)
(…) Como lado negativo, o fazer-se anunciar durante vários anos como cabo de um Grupo, onde já não se fardava, atrasando a passagem da chefia para esse grande forcado chamado José Luís Gomes.
A notícia de que teria pegado mais de 400 toiros não deveria ter sido divulgada como foi. Qualquer publicação taurina deveria ter cuidado na divulgação dessa notícia e tentar confirmá-la. Para ter pegado 400 toiros, seria necessário Nuno Salvação Barreto ter-se fardado em 400 corridas e ter pegado de caras em todas (…)
(…) O Grupo de Forcados Amadores de Lisboa teve a sua fundação em 1944. Nuno Salvação Barreto tentou fazer a última ou uma das últimas pegas de caras em Julho de 1964 no Campo Pequeno, na corrida onde actuou também o matador espanhol El Cordobés. De 1944 a 1964 passaram 20 anos. Para Nuno Salvação Barreto ter tido a possibilidade de pegar 400 toiros teria o seu Grupo ter actuado em 20 corridas por ano nesse período e o cabo ter pegado sempre em todas as corridas. É uma questão de matemática.
Contudo, o número de toiros que Nuno Salvação Barreto pegou de caras não é o mais importante. Efectivamente o seu nome ficará, de forma inigualável ligado ao forcado português e deverá ser sempre uma referência para todos os que pegam toiros.
Nuno Salvação Barreto, como forcado e como empresário deu à Festa, sempre, muito mais do que recebeu e a sua memória não deverá ser desvirtuada por notícias menos correctas.
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Publicado no jornal “Festa Brava” em 27 de Março de 1997
Excelente pega de Daniel Batalha ao 5º. toiro da corrida, muito bem rabejado e ajudado, numa actuação do Grupo que ficará, para não esquecer, no historial da Arena d’Évora.
Veio agora a ser notícia nos jornais portugueses a coligação dos partidos políticos – Socialista e Livre – para as próximas eleições autárquicas, numa aliança a que chamam de “Mais Lisboa” e com a promessa do partido Livre ficar com o pelouro da Cultura, Conhecimento, Ciência e Direitos Humanos na Câmara de Lisboa.
Sendo a tauromaquia considerada como cultura popular, ficará certamente mal defendida em Lisboa pelo partido Livre, que é manifestamente contra a tourada à portuguesa. Isto se, e só se, a tal coligação ficar em maioria depois das próximas eleições autárquicas.
O que é verdade é que uma grande parte da população de Lisboa e do país em geral gosta da festa dos toiros e isso prova-se quando há transmissões televisivas, onde a audiência é enorme.
Gostar de ver a tourada na televisão é uma coisa e ser aficionado é outra, mas na verdade o número dos que gostam de ver e mais os aficionados, é muito superior aos que não gostam e acham que os outros também não devem gostar.
Recordo, uma vez estando em viagem, parei numa localidade para beber café e verifiquei que estava a ser transmitida uma corrida de toiros da Praça do Campo Pequeno. O estabelecimento estava quase cheio e havia quem estivesse a conversar sem grande interesse na televisão, mas a maioria estava interessada e, quando da actuação dos forcados, havia um silêncio e todos, os menos interessados e os mais atentos, não desviavam o olhar do começo ao fim da pega.
Isso quer dizer, que os portugueses em geral gostam de ver o forcado sereno em frente do toiro e sabem que a pega é um invento nacional.
Os que não gostam são poucos, mas manifestam-se contra a tauromaquia e muito, como é o caso do actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, cuja opinião demonstra o desrespeito pela cultura tradicional portuguesa e nem sequer reflecte a maioria dos socialistas portugueses. Recordo, por exemplo, há uns anos ter visto o socialista Dr. João Soares, quando era presidente da Câmara da capital, a assistir em Olivença a uma corrida de“rejoneio”, onde o Grupo de Forcados Amadores de Lisboa foi pegar dois toiros...
Muito depois, também recordo ver, numa barreira do Campo Pequeno o socialista Dr. António Costa, em Abril de 2010, a assistir e a aplaudir o que se passava na arena e aparentemente entusiasmado e satisfeitíssimo a condecorar, o cabo do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, José Luís Gomes.
A ânsia de captar votos é desmedida nos políticos e há os que trocam de opiniões com grande facilidade. Neste caso, são os que ficam obscurecidos na hipotética contagem dos votos dos anti-taurinos, mesmo que não tenham entendido que as praças de toiros se enchem com público que também vota.
A pega de caras nem sempre corre bem e à primeira tentativa, por o forcado não estar bem durante o cite ou na reunião na cara do toiro, por falta de ajudas atempadas, por atraso da entrada do rabejador, por enorme poder e força do toiro ou por este ter sido mal colocado, etc.
Mas o que distingue o forcado amador é que o Grupo fará as tentativas necessárias para o toiro ser pegado.
Na foto, de 1964, na Praça de Toiros da Póvoa de Varzim, o Grupo de Forcados Amadores de Lisboa numa das tentativas a um poderoso toiro de Paulino da Cunha e Silva.
Têm as tauromaquias diversas tradições que têm sido mantidas nas arenas ao longo dos anos, tanto na corrida de toiros ao uso de Espanha como na corrida à portuguesa.
Digamos que é um espectáculo onde essas tradições gerais são mantidas com grande apreço pelos intervenientes, não obstante haver algumas diferenças de índole regional ou local dependendo de Praça para Praça, como em Las Ventas em Madrid, onde não se ouve música durante as lides.
Alguns exemplos das tradições de Portugal se podem aqui referir, como é o caso de se ouvirem os acordes do Hino da Maria da Fonte antes do começo do espectáculo; nas cortesias entrarem oito moços de forcado de cada grupo e os cavaleiros fazerem os “quartos” para saudarem o público; o grupo de forcados mais antigo pegar o primeiro toiro; a pega de caras ser executada por oito elementos do grupo de forcados, etc. São costumes que não precisam estar no Regulamento Tauromáquico.
Quando dos agradecimentos também é uma tradição habitual o forcado dar a direita ao cavaleiro e a volta ser efectuada no sentido dos ponteiros do relógio (no México, essa volta é no sentido inverso).
Nessas voltas de agradecimento é um uso tradicional o cavaleiro ser acompanhado pelos elementos da sua “quadrilha” e esses peões de brega irem cobertos com as “monteras”. Tal não aconteceu na Corrida de Gala à Antiga Portuguesa que se realizou em 13 de Outubro de 2016 na Praça de Toiros do Campo Pequeno, quando o cavaleiro Miguel Moura deu a volta de agradecimento e os seus peões de brega João Ganhão e Benito Moura, desconhecendo as regras, foram descobertos.
O peão de brega só se deve descobrir se tiver uma chamada especial. Aí os aplausos do público são para ele. Não foi o caso.
Será bom que todos os intervenientes da Festa não desconheçam os bons costumes.
É uma questão de cultura taurina.
É uma questão de saber estar. De ética taurina.
Uma palavra final a dois elementos do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, Manuel Guerreiro e João Lucas, que tanto deram à Festa Portuguesa e que se despediram nesta corrida. Para eles, que tão bem honraram a jaqueta de forcado amador e sempre souberam estar nas arenas, o nosso especial agradecimento.