O conteúdo deste blogue é da responsabilidade de MANUEL PERALTA GODINHO E CUNHA e pode ser reproduzido noutros sítios que não pertençam ao autor porque o importante é a divulgação da tauromaquia.
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Na noite de 4 de Abril de 2022 realizou-se em Évora, na Pousada dos Loios, o jantar mensal da Tertúlia Tauromáquica Eborense, tendo como convidado de honra o cronista taurino espanhol Domingo Delgado de la Cámara que deliciou os aficionados presentes com uma esclarecida dissertação sobre a lide dos toiros a pé num resumido e esclarecedor historial com a abordagem do toureio antigo, do toureio moderno e do toureio post-moderno, com destaque muito acentuado para essa enorme figura da tauromaquia que foi José Gómez Ortega “Joselito” – tragicamente colhido de morte, em 16 de Maio de 1920, com 25 anos de idade, na Praça de Toiros de Talavera de la Reina – e que revolucionou a arte de tourear, com uma profunda intuição de lide e o inicio dos passes em redondo, até então nunca vistos; com a sua enorme influência no apuramento das reses ao introduzir a lide de muleta nas “tentas” após a prova de bravura no cavalo do picador; também impulsionador da construção das grandes praças de toiros em Madrid, Barcelona e Sevilha.
Mas Domingo Delgado, além de se referir a esse período extraordinário dos tempos de Joselito e de Belmonte, não deixou de fazer comentários sérios sobre outras figuras do toureio que para ele são referências, com destaque a Manolete, mas também a Santiago Martin “El Viti”, Paco Camino e o irreverente Manuel Benitez “El Cordobés”, o magistral José Mari Manzanares o toureiro dos toureiros, o talentoso Paco Ogeda e terminando por se referir a José Tomás e a essa enorme figura do toureio actual que é José Antonio Morante Camacho “Morante de la Puebla .
Domingo Delgado também é um conhecedor da tauromaquia portuguesa e da evolução do toureio a cavalo, referindo-se a gerações de cavaleiros, com destaque a João Branco Núncio, a José Mestre Batista e João Moura, não obstante se referir também à necessidade de uma figura de prestígio que motive na actualidade o toureio em Portugal, onde a afluência às praças de toiros é muito motivada pela actuação dos grupos de forcados que, considera, ser de momento o suporte da tauromaquia no nosso país.
Foi um agradável jantar, onde na mesa de honra estavam também, além do cuidador da Tertúlia Tauromáquica Eborense Nico Mexia de Almeida, o ganadero Joaquim Grave e o representante da Protoiro Hélder Milheiro que também tiveram interessantes intervenções.
A tauromaquia é uma arte de carácter universal, referenciada por pintores, músicos, escultores e escritores como Goya, Sorolla, Picasso, Orson Welles, Ramalho Ortigão, Góngora, Quecedo, Mariano Benlliure, Lorca, Alberti, Vargas Llosa, Hemingway, Ortega y Gasset e tantos outros.
Na imagem o registo fotográfico de um momento maior da tauromaquia de Espanha: o sinal, cor de laranja, da concessão do perdão da morte na arena do toiro que foi lidado e demonstrou a bravura suficiente para regressar ao campo.
Um aspecto a que os detractores da corrida de toiros não fazem referência. Um aspecto da vida a suplantar a morte que não deve ser desconhecido, mas sim enaltecido por todos. Momento que demonstra a elevação do conceito dos aficionados tauromáquicos à bravura do toiro.
Os anti-taurinos também não referem que o toiro bravo é o guardião do espaço de mais de 550.000 hectares e que permite a conservação de um dos ecossistemas da Europa, de uma Europa dão degradada pela poluição, pela desertificação e pela erosão, onde presentemente mais de 52 milhões de hectares de terra estão em risco (Diário de Notícias de 29.04.2005).
A imagem aqui exposta assinala o indulto do toiro “Arrojado” da ganadaria de Núnez del Cuvillo na Real Maestranza de Caballeria de Sevilla em 30 de Maio de 2011.
Na foto o momento da alternativa de rejoneador Guillermo Hermoso de Mendoza na Praça de Sevilha, em 5 de Maio de 2019, concedida por seu Pai.
Não ficaria mal – e até seria de boa educação – a jovem cavaleiro descobrir-se durante esse acto. Fê-lo depois, atrasado.
Quanto ao rejoneio em si, com os rojões de castigo e colocação de bandarilhas com os toiros parados, deixa muito a desejar. Rejoneio é uma coisa e toureio a cavalo é outra. O seu Pai – Pablo Hermoso – tem conseguido e bem as duas: rejoneio lá e toureio a cavalo cá.
O jovem Guillermo já está anunciado este ano para uma corrida em Évora. Como em Portugal é diferente e mais exigente do que Espanha, vamos aguardar como se comporta numa corrida à portuguesa. Mestre tem tido.
Quem lida toiros a cavalo, será reconhecido se estiver bem em Portugal. Em Espanha podem dar piruetas, voltas e reviravoltas, muitas habilidades com os cavalos, etc. Em Portugal terão que seguir as regras da cavalaria e sem rojões de castigo para parar os toiros.
Josechu Pérez de Mendoza foi o primeiro rejoneador a bandarilhar a duas mãos com o cavalo sem cabeçada.
Foi também o primeiro rejoneador a sair pela Porta do Príncipe da Praça de Toiros de Sevilha em 5 de Julho de 1958.
Porém essa saída em ombros não foi pacifica porque o Presidente da Corrida só queria conceder ao rejoneador uma orelha, o que seria um prémio menor para a memorável actuação culminada com a colocação de um colossal par de bandarilhas utilizando a montada sem cabeçada depois de uma enorme e valorosíssima lide a cavalo, onde a Real Maestranza quase vinha a baixo com o público num alvoroço pedindo o prémio de uma segunda orelha que parecia não ser consentida, até que Juan Belmonte – que estava no palco presidencial nas funções de assessor – gritou para o Presidente:
-- Aquí en Sevilla mando yo y a ése torero se merece la segunda!
Jesechu Perez de Mendoza recebeu a segunda orelha, que lhe abriu a “Puerta del Príncipe de la Real Maestranza de Caballería de Sevilla” e foi levado em ombros até ao Hotel Colón.
A cabeça do toiro “Napoleón”, da ganadaria de Guardiola Soto, está exposta na Praça de Toiros como recordação deste facto.
Na lide de toiros “a la uzanza española” e durante o primeiro “tercio” há uma sorte que caracteriza a corrida e que é a sorte de varas, que foi, é e será uma sorte polémica.
A sua primeira finalidade é quebrar a pujança violenta do toiro para que as suas investidas se prestem ao toureio, mas a vara também pode servir para corrigir alguns defeitos do toiro, nomeadamente a sua maneira de posicionar a cabeça ao investir. Nisso não há dúvida.
Quando antes de 1928 se picavam os toiros sem o peito protector dos cavalos, morriam em praça e em cada corrida várias cavalgaduras dos picadores e era um espectáculo de sangue e tripas espalhadas na arena com o público gritando: “Más caballos!
Os toiros nem se paravam nos cavalos. Ou os picadores os conseguiam aguentar com as varas ou caiam colhidos os cavalos.
O público ia às Praças para ver os picadores e o toureio de muleta era muito mais breve.
O público, desse tempo, queria mais cavalos, mais sangue. Quanto mais cavalos mortos e gravemente feridos, maior era o sinal de toiros bravos.
As faenas eram muito mais curtas e o importante era a sorte de matar.
Porém, hoje, com os toiros mais encastados param-se nos cavalos muito mais tempo, acometendo com força nos “petos” enquanto os picadores os castigam, o que quer dizer que um forte “puyazo” actual vale por vários de antanho.
O público já não acorre às praças para ver picar mas sim para ver tourear. O que não quer dizer que não goste de ver uma boa vara colocada num toiro que se arrancou de largo. Porém, se o toiro acomete forte e fica encostado ao “peto” num enorme esforço, naturalmente que perde força e muitas vezes sai da sorte de varas a cair.
Isto a propósito dos escritos de alguns críticos – que se dizem os verdadeiros puristas – sobre o indulto do “Orgullito”, toiro lidado em Sevilha em 16 de Abril de 2018, que consideram injusto porque não o viram empregar-se a fundo nas duas varas da ordem.
Há que entender que os picadores aliviam a sorte de varas quando há essa ordem do seu matador. O que acontece com frequência.
O indulto desse toiro de Garcigrande foi pedido pelo público em esmagadora maioria. Público que os puristas consideram pouco entendido, sem conhecimentos tauromáquicos suficientes e que não deveria ver indultado um toiro que não acometesse violentamente nas varas. Porém, esse público que gosta de ver tourear e que viu a enorme e valorosa faena de El Juli, num toiro que perseguiu sempre o toureiro nos lances de capote e nos passes de muleta, que não se parou afocinhando na arena, que não se refugiou em tábuas e que, provavelmente, daria mais faena para além do tempo regulamentar, era toiro para indulto. Assim foi.
A Festa tem isto. Permite um toiro regressar ao campo como semental e transmitir a sua bravura.
Penso que a sorte de varas será cada vez mais aliviada. O regulamento que obrigou a três varas por toiro, depois passou a duas, um dia passará a só uma e, num futuro não muito distante, talvez venha a ser abolida.
Porque é perfeitamente possível lidar toiros a pé sem a sorte de varas.
Ao longo dos anos, a mudança dos tempos fez menos praticáveis estilos e costumes do toureio. Basta recordar as “bandarilhas de fogo” que foram proibidas e as “bandarilhas negras” que ainda podem ser usadas mas que a maioria do público não gosta dessa prática.
Na corrida que se realizou em Sevilha em 16 de Abril de 2018 – na Real Maestranza de Caballería – quando o matador El Juli lidava o seu segundo toiro, quinto da ordem, da ganadaria de Garcigrande, o público em pé e acenando lenços brancos pediu o indulto.
Na verdade o “Orgullito” teve um comportamento tal de bravura e nobreza que Presidente da Corrida colocou o lenço laranja premiando a ganadaria com o perdão à morte deste toiro e a possibilidade de regressar ao campo para ser aproveitado como semental.
Uma tarde histórica na tauromaquia em Sevilha, numa Praça onde raramente é concedido o indulto. Na realidade este foi o quarto indulto na “Maestranza” desde 1881.
Em 12 de Outubro de 1965 o novilho “Laborioso” do marquês de Albaserrada foi indultado depois de uma faena de Rafael Astola; em 30 de Maio de 2011, José María Manzanares indultou o toiro “Arrojado” de Núnez del Cuvillo; em 13 de Abril de 2016 ao toiro “Cobradiezmos”, de Victorino Martin, foi-lhe perdoada a morte depois de poderosa e excelente faena do valoroso matador Manuel Escribano.
O prémio maior para qualquer ganadaria é ter um toiro indultado numa Praça considerada de prestígio taurino, como é o caso de Sevilha.
Para o toureiro também é uma honra, porque o prémio do indulto tem a ver com a bravura do toiro mas também, e muito, pela lide adequada.
Parabéns ao ganadero Justo Hernández.
Parabéns ao matador Julián Lopez Escobar “El Juli”.
Parabéns ao público que esgotou a “Real Maestranza” e que maioritariamente solicitou o indulto do toiro “Orgullito”.
El Juli e o ganadero Justo Hernández (Garcigrande)