O conteúdo deste blogue é da responsabilidade de MANUEL PERALTA GODINHO E CUNHA e pode ser reproduzido noutros sítios que não pertençam ao autor porque o importante é a divulgação da tauromaquia.
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Alguns cavaleiros são considerados marcos do toureio a cavalo em Portugal e destacam-se no historial mais recente da tauromaquia portuguesa, João Branco Núncio, José Mestre Batista e João Moura.
Porém, José Mestre Batista foi um caso especial, contestado por outros cavaleiros que o reprovaram na primeira tentativa da alternativa de cavaleiro tauromáquico e, mais tarde, em 1962 um certo boicote para não ser integrado nos cartazes onde um determinado grupo de cavaleiros só iriam actuar se ele não fosse incluído no cartaz. Mas o novo empresário da Praça do Campo Pequeno – Manuel dos Santos – acreditando no seu toureio diferente e verdadeiro, contratou-o para uma série de corridas. A verdade do seu toureio frontal incomodou outros. O boicote terminou antes de começar. Começava sim, a consagração de José Mestre Batista como um dos melhores toureiros a cavalo de todos os tempos. Ficaram famosas as corridas nos anos 60 e 70 onde José Mestre Batista alternou com Álvaro Domecq Romero e com Luís Miguel da Veiga, com a informação às portas das Praças : “Não há bilhetes”.
Veio agora a ser notícia nos jornais portugueses a coligação dos partidos políticos – Socialista e Livre – para as próximas eleições autárquicas, numa aliança a que chamam de “Mais Lisboa” e com a promessa do partido Livre ficar com o pelouro da Cultura, Conhecimento, Ciência e Direitos Humanos na Câmara de Lisboa.
Sendo a tauromaquia considerada como cultura popular, ficará certamente mal defendida em Lisboa pelo partido Livre, que é manifestamente contra a tourada à portuguesa. Isto se, e só se, a tal coligação ficar em maioria depois das próximas eleições autárquicas.
O que é verdade é que uma grande parte da população de Lisboa e do país em geral gosta da festa dos toiros e isso prova-se quando há transmissões televisivas, onde a audiência é enorme.
Gostar de ver a tourada na televisão é uma coisa e ser aficionado é outra, mas na verdade o número dos que gostam de ver e mais os aficionados, é muito superior aos que não gostam e acham que os outros também não devem gostar.
Recordo, uma vez estando em viagem, parei numa localidade para beber café e verifiquei que estava a ser transmitida uma corrida de toiros da Praça do Campo Pequeno. O estabelecimento estava quase cheio e havia quem estivesse a conversar sem grande interesse na televisão, mas a maioria estava interessada e, quando da actuação dos forcados, havia um silêncio e todos, os menos interessados e os mais atentos, não desviavam o olhar do começo ao fim da pega.
Isso quer dizer, que os portugueses em geral gostam de ver o forcado sereno em frente do toiro e sabem que a pega é um invento nacional.
Os que não gostam são poucos, mas manifestam-se contra a tauromaquia e muito, como é o caso do actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, cuja opinião demonstra o desrespeito pela cultura tradicional portuguesa e nem sequer reflecte a maioria dos socialistas portugueses. Recordo, por exemplo, há uns anos ter visto o socialista Dr. João Soares, quando era presidente da Câmara da capital, a assistir em Olivença a uma corrida de“rejoneio”, onde o Grupo de Forcados Amadores de Lisboa foi pegar dois toiros...
Muito depois, também recordo ver, numa barreira do Campo Pequeno o socialista Dr. António Costa, em Abril de 2010, a assistir e a aplaudir o que se passava na arena e aparentemente entusiasmado e satisfeitíssimo a condecorar, o cabo do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, José Luís Gomes.
A ânsia de captar votos é desmedida nos políticos e há os que trocam de opiniões com grande facilidade. Neste caso, são os que ficam obscurecidos na hipotética contagem dos votos dos anti-taurinos, mesmo que não tenham entendido que as praças de toiros se enchem com público que também vota.
No começo dos anos 80 um rapaz com o nome de Rui Bento, que nasceu em 10 de Abril de 1965 em Preces, próximo do Carregado (Alenquer), quis ser toureiro e como foi estudar para Vila Franca a sua aficion começou a desenvolver-se, pelo envolvimento taurino daquela localidade mas também por ter como companheiro António Ribeiro Telles, que lhe proporcionou diversas oportunidades de participar em alguns “tentaderos”, onde se exercitava a tourear a pé as vacas que lhe cediam. Aprendizagem que foi sendo complementada com toureio de salão, executado sempre que tinha oportunidade e sob o orientação de Mário Coelho.
Em 1982 inscreveu-se num concurso de toureio a pé que se realizou na Praça de Toiros do Campo Pequeno. Concurso organizado pelo empresário Dr. Manuel Jorge dos Santos e por um programa tauromáquico da RTP. Nesse concurso participaram diversos jovens e Rui Bento saiu vencedor juntamente com José Luís Gonçalves e pouco tempo depois fez a prova para novilheiro na arena da primeira praça do país: Campo Pequeno.
Depois e com a ajuda de Mário Coelho e outros amigos consegue ir viver para Espanha, em Salamanca, e em 1983 e 1984 toureou umas dezenas de novilhadas e quando se apresentou na Praça de Laguna del Duero em Setembro de 1984, numa primeira novilhada com picadores, teve um sensacional triunfo e foi premiado com quatro orelhas e teve a possibilidade de passar a ser apoderado por Simon Carreño que o colocou em diversas novilhadas.Em Abril de 1986 fez a sua apresentação na Praça Monumental de Madrid onde triunfa e onde foi repetido mais duas vezes e em Portugal lida novilhos na Praça de Vila Franca em Outubro desse ano, alternando com Rafi Camiño e Miguel Litri. No ano seguinte Rui Bento actuou em diversas novilhadas em Espanha, França e Portugal, destacando-se também nas bandarilhas, sorte que executava com poder e facilidade.
Recebeu a alternativa na Praça de Badajoz em 25 de Junho de 1988, tendo como padrinho José María Manzanares e o testemunho de Paco Ojeda.
Infelizmente teve uma tremenda colhida em França, em 24 de Julho desse ano, na Praça de Orthez, ao bandarilhar o seu primeiro toiro. Colhida gravíssima que lhe atingiu o nervo ciático.
Porém, devido ao seu temperamento e enorme aficion reapareceu depois de algumas difíceis intervenções cirúrgicas, sempre apoiado pelos amigos e toureiros de Salamanca, nomeadamente por Niño de la Capea.
Também em Portugal toureia diversas corridas, apoderado por Fernando Camacho.
Confirmou a alternativa em Madrid em 14 de Julho de 1991, tendo como padrinho Luís Miguel Campeno e o testemunho de Antonio Mondejar.
Seguem-se diversas corridas em Espanha, Portugal e França, continuando a ser um toureiro querido em Salamanca, onde se despediu de matador de toiros em 21de Setembro de 2000.
Depois integrou a Casa Chopera como gestor taurino, tendo apoderado diversos toureiros.
Um dia e sem esperar por tal, foi convidado para gerir as actividades tauromáquicas do Campo Pequeno desde a reabertura da Praça em 2006 e durante os seguintes 14 anos, sempre com elevado profissionalismo.
Neste momento colabora como assessor na gestão das Praças de Toiros da Nazaré, Figueira da Foz e de Almeirim, sendo também apoderado de Luís Rouxinol, Luís Rouxinol Jr e João Moura Jr..
Estas e outras memórias foram recordadas na noite de 12 de Julho de 2021, no Évora Hotel, durante o jantar da Tertúlia Tauromáquica Eborense, onde Rui Bento Vasquez foi o convidado de honra.
Manuel Peralta Godinho e Cunha
Na foto, a mesa de Honra no jantar de 12.Julho.2021
António Teixeira, Zeca Pereira, Rui Bento Vasquez, Nico Mexia de Almeida (Cuidador da Tertúlia), Manuel Passanha Sobral e Manuel Calejo Pires.
Quase toda a comunicação social – televisões, rádios, jornais, etc. – querendo estar ao lado de não sei quem, não fez referência à “Festa da Tauromaquia” que se realizou no dia 29 de Fevereiro de 2020 no Campo Pequeno, que atravessa um momento de indefinição empresarial e onde parece haver agora dúvida no que diz respeito às directrizes de gestão na utilização como Praça de Toiros – o objectivo para que foi construída – e na hipótese de se recentrar noutro tipo de espectáculos.
Milhares de pessoas estiveram no Campo Pequeno ontem, no Dia da Tauromaquia e outros milhares assistiram ao Festival Taurino em transmissão directa pela internet. Porém as direcções das televisões e dos jornais nada disseram e parece que têm receio de difundir hoje algo que ultrapasse o triste e baixo nível das notícias relacionadas com o racismo, violência e a corrupção no futebol que tanto gostam de divulgar.
A Festa Brava deve ser um motivo de notícia porque envolve largos milhares de pessoas, é importante da economia nacional e faz parte da arte e da cultura portuguesa.
As notícias na tal comunicação social tradicional foram escassas, quase um silêncio, numa colaboração com o politicamente correcto.
Na foto a mensagem da arena para o exterior:”Esta é a nossa casa”
Faz exactamente 25 anos que a cavaleira Ana Batista se apresentou na Praça Monumental do Campo Pequeno.
Que hoje tenha sorte, porque valor tem.
Recordo o texto da contra-capa do meu livro “Arenas”:
“Sem a presença trágica a tourada seria também bela, mas onde os artistas se vestiriam num “faz de conta”. Ora o toureiro veste-se a rigor sabendo que pode ser a última vez. Tal não acontece no teatro ou na ópera, onde as cenas serão repetidas na sessão seguinte. No toureio não há duas faenas iguais. No toureio igual é só o perigo de morte.”
Ana Batista foi colhida em 6 de Julho de 2019 na corrida de toiros em Coruche tendo sido assistida no Hospital de Santarém e hoje – 5 dias depois – irá apresentar-se na Praça do Campo Pequeno para lidar um toiro da ganadaria de Jorge Carvalho.
“No meu entender é uma Festa que pode estar em crescendo, desde que seja transmitida pela via da cultura, é uma arte antes mesmo de ser uma tradição. Nunca há-de ser uma festa de massas, pois requer uma sensibilidade apurada para a saber apreciar”
Dr. Joaquim Grave
Jornal Vida Ribatejana – 10.02.2010
Na foto António Costa numa barreira do Campo Pequeno e assistindo a uma tourada ao lado do excelente aficionado Elísio Santos Summavielle que certamente lhe terá explicado o que se estava passando na arena.
Claro que não basta ver, para se gostar da Festa Brava é necessário “sensibilidade apurada” e isso não se ensina, é uma questão de alma. Para a entender já dá mais trabalho. Um trabalho constante de leitura de livros, revistas e jornais taurinos; de tertúlia, ouvindo atentamente o que os aficionados dizem; assistir a corridas de toiros e ler as opiniões dos críticos, etc.
Num país onde a tourada remonta a tempos imemoriais, onde o toureio “é uma arte antes mesmo de sertradição” os seus governantes devem ter o respeito por um espectáculo que é uma manifestação cultural dos povos da Península Ibérica.
Mas nem todos assim pensam e o actual primeiro-ministro António Costa defende agora que sejam as autarquias a decidir proibir ou não as touradas.
Graves estas posições aligeiradas de um responsável pelo Governo de Portugal. Sabendo-se que as Câmaras Municipais estão constantemente a mudar de cor política, não faz sentido que em tão curto espaço de tempo tenham o poder que lhes permita mandar encerrar e destruir as Praças de Toiros, como actualmente acontece com a maioria PPD/PSD da Póvoa de Varzim e seguidamente uma outra maioria tentar refazer o que outros desfizeram.
Também parece grave o primeiro-ministro – em carta de resposta a Manuel Alegre – ficar “chocado” por o serviço público de televisão transmitir em directo algumas touradas, porque sendo um espectáculo que não pode ser barato muitos portugueses apesar de gostar de ver, tal não o podem fazer por uma questão económica.
Nem todos podem comprar o bilhete de ingresso numa Praça de Toiros e muito menos assistir numa barreira ao seu espectáculo preferido.
Nas corridas de toiros em Portugal do fim do século XIX e começo do século XX lidavam-se toiros a cavalo e a pé e os cartazes eram anunciados com um ou dois cavaleiros, alguns capinhas e um grupo de oito moços de forcado que lidavam e pegavam toiros que, em geral, já tinham sido corridos.
Por corrida eram lidados 10 ou 12 toiros embolados, sendo para cavalo dois a quatro toiros e os restantes eram toureados a pé pelos capinhas, com lances de capote e bandarilhados. Por vezes um ou outro capinha dava uns passes de muleta. Alguns toiros que assim tinham sido lidados, a cavalo ou a pé, eram pegados pelos forcados se para tal assim fosse indicado pelo Inteligente.
Esse tipo de tourada à portuguesa foi desaparecendo. Contudo, foi recreada na antiga Praça de Santarém, em 29 de Maio de 1960 num cartel composto pelos cavaleiros Alberto Luís Lopes, Dom Francisco Mascarenhas, Manuel Conde e David Ribeiro Telles e para a lide a pé os bandarilheiros António Badajoz e Manuel Badajoz que lidaram de capote e bandarilharam dois toiros. Todos os toiros dos Herdeiros de Emílio Infante da Câmara e Dom Duarte Atalaya foram pegados pelos Grupos de Forcados Amadores de Santarém e de Montemor, ficando na memória dos aficionados as três excelentes cernelhas executadas por Joaquim Lampreia e João d’Orey Pinheiro (Arnoso); António Zuzarte e Simão Comenda; José Custódio da Avó e Simão Comenda. Luís Freire Gameiro realizou a melhor pega de caras.
Anteriormente houve de parte de algumas empresas umas tentativas de aproximação da corrida ao uso de Espanha, só com um cavaleiro e três espadas. Corridas essas onde a actuação dos forcados era diminuta pegando só um ou dois toiros por corrida. Porém, já em 1894, por escritura pública subscrita pelos cavaleiros José Bento Araújo, Alfredo Tinoco da Silva, Fernando de Oliveira e Manuel Casimiro de Almeida, estes obrigavam-se a exercer em proveito comum a sua profissão de cavaleiros tauromáquicos e comprometiam-se a actuar nas Praças de Toiros do Campo Pequeno e na de Algés se pelo menos estivessem anunciados dois cavaleiros.
Depois foram as épocas das corridas mistas, com 8 toiros, dois cavaleiros, dois espadas e um grupo de forcados.
Mas a manutenção da actual corrida à portuguesa deve-se muito às atitudes do cavaleiro João Branco Núncio. Primeiro ao exigir a lide com toiros puros, que permitiu um toureio com mais arte e, também, a evolução da pega. Depois quando em 1945 firmou com a empresa do Campo Pequeno um contrato de quatro corridas nessa época e impôs como principal condição que só participaria nelas se tivesse que alternar com outro cavaleiro profissional e não sozinho como a empresa queria e vinha fazendo em corridas anteriores. O gesto de João Núncio contrariou o movimento espanholado que se esboçava, de um só cavaleiro por corrida, da tentativa da eliminação das cortesias à portuguesa e da não inclusão de forcados.
Mais tarde, a corrida chamada “à portuguesa”, com seis toiros, só com cavaleiros e forcados passou a ter a preferência do público.
Hoje tudo está diferente. Os toiros mais encastados, resultado de uma melhor selecção da parte dos ganaderos, permitiram uma evolução na pega de caras, com o forcado marcando os momentos do toureio: “parar, mandar e templar”, só possível em toiros encastados e que humilham. O público já se habituou a fazer silêncio durante o cite, demonstrando um respeito pelo forcado.
Quanto à “Arte de Marialva” – como tem sido conhecido o nosso toureio a cavalo – vai tendo transformações. Os novos cavaleiros portugueses que vão aparecendo gostam de confirmar as alternativas em Espanha numa atitude de vassalagem impensável há uns anos atrás. Por outro lado, alguns rejoneadores espanhóis apresentam-se em Portugal com excelentes cavalos num estilo de toureio que tenta aproximar-se à lide à portuguesa, sem rojões de castigo, toureando mais de frente e com menos recortes, que agrada ao público, enchendo as praças.
Porém, o suporte da corrida à portuguesa parece serem os forcados amadores, que de caras – e algumas vezes de cernelha – emocionam os aficionados com valorosas pegas e enorme agrado dos empresários que têm grande oferta e fácil escolha.