O conteúdo deste blogue é da responsabilidade de MANUEL PERALTA GODINHO E CUNHA e pode ser reproduzido noutros sítios que não pertençam ao autor porque o importante é a divulgação da tauromaquia.
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As televisões que operam em Portugal não têm transmitido ultimamente programas relacionados com a tauromaquia e a RTP, avaliando mal as audiências, tem perdido a oportunidade de fazer transmissões de corridas de toiros, tão do agrado da maioria dos portugueses.
O canal “Onetoro” esteve em Lisboa para apresentar em directo duas corridas da Praça Monumental do Campo Pequeno em 7 e 8 de Setembro, transmitindo para 96 países e aumentou as subscrições em Portugal nesses dois dias.
David Casas o excelente locutor desse canal estrangeiro foi brindado pelo cabo Leonardo Matias que apresentou, em nome do Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Moita, os agradecimentos ao canal “Onetoro” por transmitir as corridas em Portugal, o que as operadoras portuguesas não querem fazer.
Corrida da Rádio - Campo Pequeno - 1981 - O cavaleiro José João Zoio na volta a arena com os forcados Joaquim Murteira Correia e João Cortes (Amadores de Montemor)
A arte do “rejoneio”, que durante muitos anos apareceu quase que envergonhada nas praças de Espanha a que alguns puristas denominavam “el número del caballito”, teve um incremento importante nas últimas décadas e em terras espanholas quatro rejoneadores se destacaram: Moreno Pidal, Ginés Cartagena, Pablo Hermoso de Mendoza e Diego Ventura, rejoneadores que fizeram escola e deixaram raízes em muitos outros interpretes do rejoneio.
Ultimamente em Espanha há um crescente interesse pela lide dos toiros a cavalo e os nossos “marialvas” têm sentido a necessidade de se afirmarem nas praças espanholas a ponto de alguns lá confirmarem as alternativas… Facto que se inverteu, porque em anos não muito distantes o grande objectivo de um rejoneador espanhol era triunfar nas principais praças portuguesas.
Assim sendo, são os nossos marialvas a prestar vassalagem aos espanhóis e talvez tenham razão porque nos últimos tempos não se pode considerar a Monumental do Campo Pequeno como a “Catedral do Toureio a Cavalo” porque há governantes, autarcas locais e deputados da república que querem proibir as corridas de toiros em Lisboa.
Isto se, e só se, os aficionados deixarem. Eu, que sou só um simples eleitor, digo que não!
Durante muitas épocas as temporadas tauromáquicas iniciavam-se do Domingo de Páscoa na Praça Monumental do Campo Pequeno e encerravam no dia 1 de Novembro na castiça Praça de Toiros do Cartaxo.
Nas tertúlias, museus taurinos e nas colecções de diversos aficionados isso se pode verificar facilmente e confirmar em que anos se realizaram essas corridas.
Já o cartaz que anuncia a próxima corrida do primeiro de Novembro na Praça do Cartaxo foi preparado por quem não tem essa sensibilidade e ao ano não diz nada.
A corrida de toiros é uma Festa especial e os cartazes deveriam ser elaborados por quem entenda o que está a fazer e não devem ser feitos com a mesma ligeireza de quem faz um folheto para uma promoção qualquer de um supermercado.
Assim, se alguém guardar o programa desta próxima corrida não se deve esquecer de acrescentar o ano.
Em 12 de Abril de 1964 realizou-se uma corrida na Praça Monumental do Campo Pequeno de homenagem aos Príncipes do Mónaco e num dos camarotes esteve a Princesa Grace Patrícia Grimaldi (Grace Kelly) e os seus filhos.
Lidaram-se 8 toiros, sendo 4 da ganadaria de Norberto Pedroso para os cavaleiros Pedro Louceiro e José Maldonado Cortes e para os Forcados Amadores de Évora comandados por João Nunes Patinhas, mais 4 toiros da ganadaria de Manuel César Rodrigues para os espadas José Falcão e Óscar Rosmano.
Praça completamente cheia e grande triunfo dos Amadores de Évora com quatro excelentes pegas de caras e o Grupo chamado à Praça.
Na lide a pé um enorme êxito de José Falcão.
Captadas pelo fotógrafo taurino Lucílio Figueiredo há algumas fotos dessa corrida e uma delas da pega que foi executada por Dom Estevam de Lancastre com excelente primeira ajuda de João Bonneville Franco.
Essa foto foi a escolhida e aproveitada muito mais tarde pelo escultor Domingos Soares Branco que a utilizou como base de trabalho quando efectuou o conjunto escultórico do Monumento ao Forcado que está colocado em Santarém, desde 10 de Junho de 1997, na Rotunda António Gomes de Abreu.
No seu atelier o escultor Domingos Soares Branco com Dom Estevam de Lancastre e João Bonneville Franco.
Nota-se a foto que serviu de mostra para a escultura.
O espanhol “Canal Toros” nesta temporada de 2018 tem vindo a transmitir corridas das principais Praças de Toiros de Espanha e França e esta última de Madrid – da Feira de Outono – onde foram lidados toiros de Victoriano del Rio, Cortés e de Conde de Mayalde, teve alguns motivos de interesse, com destaque para a confirmação da alternativa do sevilhano Pablo Aguado, toureiro clássico mas que tem tido poucas corridas e esta orelha que recebeu após a lide do sexto toiro talvez lhe abra outros contratos.
Que bem esteve Alejandro Talavante no seu primeiro, toiro que não era fácil e que o matador lidou com mestria.
Angustia quando Saúl Jiménez Fortes entrou a matar o quinto – um sobrero da ganadaria do Conde de Mayalde - e foi colhido, seguindo para a enfermaria e depois para o hospital.
Mas a curiosidade sobre a transmissão em directo desta corrida foi ter sido referido que o comando da Polícia de Madrid não destacou nenhum contingente para a Praça de Las Ventas, não obstante estarem mais de 20 mil espectadores a assistir.
Muito interessante se ter considerado que o público dos toiros sabe estar e não tem comparação com o de outros eventos, onde os espectadores têm que ser revistados e ficam sob observação atenta de enormes estruturas policiais, antes, durante e no final de cada espectáculo.
Aos toiros assistem espectadores atentos, que fazem silêncio nos momentos de maior emoção, que entram e saem da Praça ordeiramente.
Num mundo actual de terrores, agressões, insultos e tragédias, destacam-se os espectadores tauromáquicos que, não obstante serem aos milhares, não criam conflitos e esses problemas só acontecem quando os animalistas anti-taurinos se aproximam dos locais onde nunca deveriam estar.
Ora aqui está um assunto que os políticos portugueses menos atentos á nossa cultura e tradições populares ainda não tiveram tempo de reflectir.
Assim, por exemplo, no caso da Praça de Toiros do Campo Pequeno a Polícia só faz falta para tomar conta dos animalistas que, como se sabe, se portam muito mal.
Praça de Las Ventas em Madrid, com mais de 20.000 espectadores e sem Polícia
Em Portugal a apresentação na arena de todos os intervenientes na tourada chama-se “cortesias” e é um ritual taurino de grande beleza onde os cavaleiros devem fazer os “quartos” para cumprimentarem o público.
Portugal é o último reduto do toureio clássico a cavalo e nas “cortesias” pode-se verificar se os cavaleiros se apresentam aprumados nas selas, dominadores dos cavalos mandando-os mais com as pernas do que as rédeas, porque o perfeito conhecimento da equitação é uma condicionante para quem deseja tourear a cavalo à portuguesa.
A manutenção da actual tourada à portuguesa deve-se, em grande parte, às atitudes do cavaleiro João Branco Núncio, primeiro ao exigir a lide com toiros puros, que permitiu um toureio com mais arte e depois quando em 1945 firmou com a empresa do Campo Pequeno um contrato para quatro corridas nessa época e impôs como principal condição que só participaria nelas se tivesse que alternar com outro cavaleiro profissional e não sozinho como a empresa vinha a fazer em corridas anteriores onde eram lidados dois toiros para cavalo e seis toiros para a lide a pé.
O gesto de João Branco Núncio contrariou o “movimento espanholado” que se esboçava da tentativa a eliminação das cortesias à portuguesa e da não inclusão de forcados.
Mais tarde nos anos sessenta e já durante a responsabilidade de Manuel dos Santos na empresa do Campo Pequeno, também houve a tentativa de se lidarem toiros desembolados a cavalo e sem a intervenção dos forcados no final dessas lides, numa aproximação do “rejoneio” à espanhola e onde era incluído nesses cartazes o andaluz Álvaro Domecq Romero.
Tudo tentativas de se “espanholar” a corrida e que não foram bem aceites pelo público.
Vem isto a propósito de nas “cortesias” da última “Corrida TVI”, os cavaleiros não terem feito os “quartos” e se tal aconteceu deve ter sido por indicação da empresa, porém com a aceitação dos cavaleiros e a autorização do director da corrida.
Se são “cortesias a despachar” e mais fáceis para os cavaleiros, na realidade não passa de uma descaracterização da corrida de toiros à portuguesa e que não se deveria repetir nas praças de toiros de Portugal e muito menos no Campo Pequeno que é, por enquanto, a Catedral do Toureio a Cavalo.
Há diversas tauromaquias e todas devem ser respeitadas nos seus usos e costumes nos diversos países e regiões.
Esperemos que na próxima corrida que se realizará na Monumental do Campo Pequeno na noite de 6 deste mês de Setembro as cortesias sejam à portuguesa, porque estamos em Portugal.
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Na foto, captada pelo fotógrafo taurino João Silva, as "cortesias a despachar" que foram apresentadas pela televisão ao país.