O conteúdo deste blogue é da responsabilidade de MANUEL PERALTA GODINHO E CUNHA e pode ser reproduzido noutros sítios que não pertençam ao autor porque o importante é a divulgação da tauromaquia.
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Na lide de toiros “a la uzanza española” e durante o primeiro “tercio” há uma sorte que caracteriza a corrida e que é a sorte de varas, que foi, é e será uma sorte polémica.
A sua primeira finalidade é quebrar a pujança violenta do toiro para que as suas investidas se prestem ao toureio, mas a vara também pode servir para corrigir alguns defeitos do toiro, nomeadamente a sua maneira de posicionar a cabeça ao investir. Nisso não há dúvida.
Quando antes de 1928 se picavam os toiros sem o peito protector dos cavalos, morriam em praça e em cada corrida várias cavalgaduras dos picadores e era um espectáculo de sangue e tripas espalhadas na arena com o público gritando: “Más caballos!
Os toiros nem se paravam nos cavalos. Ou os picadores os conseguiam aguentar com as varas ou caiam colhidos os cavalos.
O público ia às Praças para ver os picadores e o toureio de muleta era muito mais breve.
O público, desse tempo, queria mais cavalos, mais sangue. Quanto mais cavalos mortos e gravemente feridos, maior era o sinal de toiros bravos.
As faenas eram muito mais curtas e o importante era a sorte de matar.
Porém, hoje, com os toiros mais encastados param-se nos cavalos muito mais tempo, acometendo com força nos “petos” enquanto os picadores os castigam, o que quer dizer que um forte “puyazo” actual vale por vários de antanho.
O público já não acorre às praças para ver picar mas sim para ver tourear. O que não quer dizer que não goste de ver uma boa vara colocada num toiro que se arrancou de largo. Porém, se o toiro acomete forte e fica encostado ao “peto” num enorme esforço, naturalmente que perde força e muitas vezes sai da sorte de varas a cair.
Isto a propósito dos escritos de alguns críticos – que se dizem os verdadeiros puristas – sobre o indulto do “Orgullito”, toiro lidado em Sevilha em 16 de Abril de 2018, que consideram injusto porque não o viram empregar-se a fundo nas duas varas da ordem.
Há que entender que os picadores aliviam a sorte de varas quando há essa ordem do seu matador. O que acontece com frequência.
O indulto desse toiro de Garcigrande foi pedido pelo público em esmagadora maioria. Público que os puristas consideram pouco entendido, sem conhecimentos tauromáquicos suficientes e que não deveria ver indultado um toiro que não acometesse violentamente nas varas. Porém, esse público que gosta de ver tourear e que viu a enorme e valorosa faena de El Juli, num toiro que perseguiu sempre o toureiro nos lances de capote e nos passes de muleta, que não se parou afocinhando na arena, que não se refugiou em tábuas e que, provavelmente, daria mais faena para além do tempo regulamentar, era toiro para indulto. Assim foi.
A Festa tem isto. Permite um toiro regressar ao campo como semental e transmitir a sua bravura.
Penso que a sorte de varas será cada vez mais aliviada. O regulamento que obrigou a três varas por toiro, depois passou a duas, um dia passará a só uma e, num futuro não muito distante, talvez venha a ser abolida.
Porque é perfeitamente possível lidar toiros a pé sem a sorte de varas.
Ao longo dos anos, a mudança dos tempos fez menos praticáveis estilos e costumes do toureio. Basta recordar as “bandarilhas de fogo” que foram proibidas e as “bandarilhas negras” que ainda podem ser usadas mas que a maioria do público não gosta dessa prática.